É uma ironia que a decisão do ministro Teori Zavascki
sobre a oitiva de Lula na Operação Lava Jato tenha sido a de nominá-lo como
"informante" e não como "testemunha", como desejava o
Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, ambos ignorando o pedido da
Polícia Federal, que queria ouvir o ex-presidente como "investigado"
e buscando, na verdade, blindar Lula.
É que Lula foi informante de verdade durante a ditadura
militar, prestando serviços como alcaguete do Dops, conforme conta em detalhes
o delegado Romeu Juma Júnior no seu livro "Assassinato de
Reputações". Lula nunca processou Tuma Júnior, engoliu tudo em seco,
porque sabia que o delegado possuía e possui provas abundantes sobre suas
denúncias.
- Escreve Romeu Tuma Júnior na página 66 do seu livro
"Assassinato de Reputação":
- "Eu vivi essa história com o meu "velho"
(o chefão do Dops de SP na ditadura, Romeu Tuma). Sou protagonista; eu era
policial (investigador do Dops) não esqueçam".
O editor comprou um exemplar, leu, e resumiu em notas o
que considerou mais relevante.
Em 20 páginas (51 a 70) de enorme consistência, o
delegado Romeu Tuma Júnior desconstrói por completo a imagem que Lula e o PT
forjaram ao longo da sua exitosa carreira de sindicalista e líder político, reduzindo-o
a um reles dedo duro da ditadura militar - um traidor da causa operária e dos
oposicionistas que acreditaram na sinceridade do que ele proclama até hoje nas
assembleias, nas convenções e no governo.
O título do capítulo em que conta a deduragem diz tudo:
“Lula: Alcaguete e aprendiz do Dops".
O que escreve Tuma Júnior, relatando a ordem de Lula para
que seu ministro Tarso Genro deveria mantê-lo secretário nacional da Justiça,
como reconhecimento das "relações íntimas" que o presidente
sustentava com Tumão, o pai de Tuma Júnior, quando este comandava o Dops de São
Paulo, justamente o órgão estadual da repressão, enlace direto com os militares
e sobretudo com o general Golbery do Couto e Silva, o ente político de Geisel e
da tese da abertura "lenta, gradual e segura":
- Na ditadura, Lula foi um dos mais importantes
informantes do Dops capitaneados pelo meu pai.
. Lula era o que no jargão policial chama-se "ganso
(nos sindicatos, a função chama-se Judas ou Judas) e seu nome de guerra era
"Barba". Ele foi recrutado por Tumão, antes mesmo de ser preso em
1980. Na prisão, Lula costumava dormir na poltrona da sala de Tumão no Dops.
Pouco ia para o xadrez onde estavam seus companheiros, alegando que era
"ouvido" a toda hora pelos policiais e militares, o que não deixava
de ser verdade.
. A função era muito perigosa:
- Se soubessem que era informante pessoal do meu pai,
Lula estaria morto há muito tempo.
. Mais adiante, Tuma Júnior escreve (página 53)
- Lula era o nosso melhor informante, por isso eu estava
na missão de acompanhá-lo em sua prisão. Lula nos prestava informações muito
valiosas sobre as datas e locais de reuniões sindicais, quando haveria greve,
onde o patrimônio das multinacionais poderia estar em risco por conta dessas
paralisações. Queríamos informações especiais sobre o líder dos bancários. Luiz
Gushikin,um jovem trotskista da facção Libelu.
. Sobre Gushikin, que depois seria seu ministro da
Propaganda, mais tarde defenestrado em meio a denúncias, eis o que Lula pensava
dele:
- Gushikin é o mais arredio, um louco incontrolável.
. Tuma Júnior conta no livro que Lula entregava tudo de
Gushikin.
. A colaboração com a polícia da ditadura militar incluía
acertos com as multinacionais do setor automotivo:
- Lula combinava as greves com empresários e avisava o
Dops. Muitas das greves que ele armava com os empresários eram para aumentar o
valor de venda dos veículos.
. Não foi por acaso que Miguel Jorge, um dos
ex-presidentes de montadoras do ABC, virou ministro de Estado, sob Lula.
. Tuma Júnior concede datas, locais, testemunhas,
situações - em grande profusão.
Muito do que ele escreve, é contado de maneira bem mais
encoberta nos livros "Jogo Duro", do banqueiro e ex-presidente da
Anfavea, Mário Garnero, e "O que eu sei de Lula", de José Nêumanne
Pinto.