Rodrigo Maia, presidente da
Câmara dos Deputados: "O DEM conseguiu ocupar o espaço na política. Se a
gente conseguir até abril construir uma base de apoio forte na maioria dos
estados brasileiros, podemos pensar em ter um candidato." (Cristiano
Mariz/VEJA)
O presidente da Câmara pretende votar um pacote de projetos que, se aprovado, poderá pavimentar sua candidatura à Presidência nas eleições de outubro.
No
ano passado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi categórico ao descartar
a possibilidade de concorrer ao Palácio do Planalto. Exercendo seu quinto
mandato como deputado federal, ele dizia não ter “tamanho” para participar da
disputa. A recente ofensiva de seu partido, o DEM, para filiar quadros do PSB e
a estagnação dos pré-candidatos de centro nas pesquisas eleitorais, no entanto,
mudaram os planos de Maia. Agora, ele defende uma candidatura própria de seu
partido à Presidência e a votação de um pacote de projetos que, se aprovado,
demonstraria que ele, Maia, tem condições de comandar as mudanças de que o país
precisa. “Como não há, no momento, um nome natural no nosso campo político do
centro, todos têm condições de serem candidatos. Qual a diferença de 1% para
5%? Zero”, diz. Nesta entrevista a VEJA, Maia acena a fatias importantes do
eleitorado. Aos donos do dinheiro, promete empenho em favor da reforma da
previdência. Num flerte com entusiastas da pré-candidatura de Jair Bolsonaro,
prega mudanças no Estatuto de Desarmamento a fim de garantir ao cidadão comum o
porte de armas. Maia não assume a sua candidatura, mas entrou de vez no páreo.
“Lula não ganha a eleição. Lula não tem mais condições de atrair alianças para
ter tempo de TV. Vai ter que fazer uma campanha mais radicalizada e não vai
conseguir caminhar para o centro como fez em 2002”. A seguir, os principais
trechos da entrevista:
Aumentou
a chance de aprovação da reforma da previdência? O clima está melhor. Os
setores médios da população já estão apoiando a reforma da previdência. O que a
gente precisa é saber como chegar ao trabalhador que ganha de um a dois
salários mínimos, que não vai ser atingido pela reforma, mas está contra a
reforma. O desafio é acertar a comunicação nos primeiros dias de fevereiro, já
que a ideia é votar na segunda quinzena de fevereiro. O aposentado, por
exemplo, precisa estar a favor da reforma porque, do contrário, vai acontecer
no Brasil o que aconteceu em alguns países da Europa, que cortaram de 30% a 50%
das aposentadorias.
Como
convencer os deputados a aprovar o texto? Temos que chamar cada deputado
individualmente para mostrar que a Previdência é uma agenda do Brasil. O mesmo
com os governadores. Eles estão sofrendo muito com o aumento permanente de
despesas. Cinco estados já não conseguiram pagar o 13º salário dos servidores
no ano passado. Neste ano, vão ser sete. Depois, nove. Depois, todos os
estados, porque o sistema previdenciário estadual já é deficitário e será cada
vez mais deficitário. É uma situação muito grave. Não dá para fugir dessa
agenda.
No
ano passado, os deputados preferiram fugir dessa agenda? A publicidade do
governo já teve um impacto na opinião pública. A gente já tem uma parcela de
30% a 45% da população a favor da reforma. Precisamos continuar trabalhando
esse tema para que o deputado, quando vá até a sua base, não tenha esse assunto
como um fator de muita rejeição.
A
tendência hoje é o Congresso deixar a reforma da previdência para o próximo
governo? Se a reforma não for votada agora, chegaremos à eleição com esse tema
dominando o debate do mesmo jeito. Quando o candidato prometer alguma coisa, a
imprensa vai perguntar: com que dinheiro? Não há alternativa. A União fechou o
ano passado com quase 60% de suas receitas comprometidas com a previdência.
Quem quer, de fato, tratar de uma agenda social séria, vai ter que tratar da
previdência. A população está envelhecendo muito rápido e um grupo ainda se
aposenta muito cedo. Em dez a quinze anos, vamos estar com a população mais
velha que a população europeia.
O
ministro Carlos Marun, novo articulador político do governo, está ajudando ou
atrapalhando nesse processo? Ele tem um perfil diferente do ex-ministro Antonio
Imbassahy. Ele é mais do conflito e confronto. Se continuar com essa energia,
evitando alguns conflitos como o que teve com os governadores, por exemplo, vai
poder ajudar muito. Marun é muito determinado, muito corajoso, defende muito o
que acredita. Acho que tem que tomar cuidado para a gente não arrumar briga com
quem não precisa. A gente precisa dos governadores junto com a gente. Acho que,
com o tempo, ele vai entender que o papel de ministro é diferente do de
deputado.
O
senhor aparece como presidenciável no noticiário. Como vê isso? É claro que
quando as pessoas lembram o seu nome, e vaidade todo mundo tem um pouco, a
gente fica contente. Mas não acho que seja hora de discutir candidatura. A
gente precisa primeiro discutir uma agenda para o país e só depois discutir
nomes. Como não há, no momento, um nome natural no nosso campo político do
centro, todos têm condições de serem candidatos. Qual a diferença de 1% para
5%? Zero. Agora, se não tiver uma convergência de ideias nos partidos, que
represente um bom tempo de televisão para discutir e apresentar essas ideias, é
uma besteira discutir nomes.
O
DEM terá candidato próprio? Acho que o DEM tem que trabalhar para ter candidato
próprio ao Planalto.
O
senhor já disse que seria loucura disputar a Presidência. O que mudou? O DEM
conseguiu ocupar o espaço na política. Se a gente conseguir, até abril,
construir uma base de apoio forte na maioria dos estados brasileiros, podemos
pensar em ter um candidato. O DEM projeta hoje ter a possibilidade de ter dez a
doze candidatos a governador. Acho que só depois da janela de filiação, em
março, saberemos os partidos que vão ter condição de liderar o processo
eleitoral no país.
O
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pode ser o candidato do campo político
do senhor? Essa questão do Meirelles não foi discutida na base. O Meirelles se
lançou pré-candidato com o apoio do partido dele, o que é legítimo. Como também
seria legítimo se o DEM tivesse feito a mesma coisa.
Além
da previdência, quais são as outras prioridades da Câmara? A agenda da
segurança pública. Constituímos um grupo de trabalho, com o ministro Alexandre
Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que vai apresentar em fevereiro uma
proposta de projeto de lei para melhorar a legislação de combate ao tráfico de
drogas e armas. Vou pautar isso na Câmara. Também tem a discussão do Estatuto
do Desarmamento. Acho que temos que ter regras, mas, depois das regras, acho
que as pessoas têm que ter direito a sua arma. Esse é um debate que vamos
enfrentar porque a sociedade está cobrando. E também temos de discutir a
responsabilidade constitucional do governo federal em relação à segurança.
O
senhor pautará a questão do foro privilegiado? Vamos tratar dessa questão. Pode
ser votando o projeto que temos aqui na Casa ou chegando a uma solução como a
que o Supremo já pensou, que, na minha opinião, é boa. (Em julgamento suspenso
por um pedido de vista, a maioria dos ministros do STF defendeu a validade da
prerrogativa apenas nos casos de crimes cometidos durante o mandato e
relacionados ao exercício da atividade parlamentar)
Algum
outro dispositivo pode ser aprimorado? O poder pessoal do ministro na nomeação
dos servidores da área jurídica ou financeira precisa ser modificado. Esses
cargos, que controlam dinheiro e procedimentos, deveriam estar mais sob o
controle do Estado do que do universo político do governo.
Qual
o peso de Lula na disputa presidencial? Lula é um ator importante, forte. Para
a política, seria melhor que ele participasse da eleição. Mas essa questão não
está nas mãos da política, está com o Judiciário. O Lula não ganha a eleição.
Lula não tem mais condições de atrair alianças para ter tempo de TV. Vai ter
que fazer uma campanha mais radicalizada e não vai conseguir caminhar para o
centro como fez em 2002.
Esse
raciocínio vale para Jair Bolsonaro? O Bolsonaro conseguiu atrair para ele o
sentimento de insatisfação de parte importante da sociedade. Ele conseguiu usar
as redes sociais como nenhum político conseguiu no Brasil. Agora, falta a ele a
capacidade de organizar o apoio político de partidos. Ele faz tudo muito
sozinho e acaba atrapalhando. Mas é a polarização que faz dele um ator
relevante. Ele precisa radicalizar para ser visto e chamar a atenção, mas isso
não convence a maioria do país.
Fonte : Veja Online