Em
artigo no O POVO deste sábado (5), a jornalista Letícia Alves aponta que a
vinda de homens da Força Nacional alivia um pouco o medo, mas não é o
suficiente para trazer de volta a esperança de um novo ano. Confira:
O
clima de Ano Novo nem havia cessado quando moradores de Caucaia escutaram um
estrondo e sentiram a terra tremer na madrugada do dia 3 de janeiro. O barulho
era de uma explosão em viaduto na BR-020, ataque que, junto com o incêndio de
dois ônibus, inaugurou nova onda de terror causada por facções criminosas no
Ceará. Desde então, não escutei mais desejos de “feliz ano novo” sendo trocados
entre amigos, familiares e colegas de trabalho. Foi-se embora a esperança?
Infelizmente,
essa situação não é mais novidade para a população cearense. Só em 2018, foram
três ciclos de ataques a ônibus e prédios públicos e particulares; em 2017,
outros dois; e em 2016, absurdas cinco ondas de ações criminosas generalizadas
– segundo dados de edição do O POVO de ontem. Durante o segundo semestre do ano
passado, experimentamos uma paz até estranha, levando em conta esses números,
mas ela mal esperou a virada do ano (ou a posse dos governantes).
O
caos na segurança do Ceará repercutiu em todo o Brasil e chegou ao governo
federal com maior rapidez do que das outras vezes. Ainda no dia 3, à tarde, o
governador Camilo Santana (PT) anunciou conversa com Sergio Moro, ministro da
Justiça e da Segurança Pública, e solicitação da Força Nacional. Em julho do
ano passado, mesmo após cinco dias de terror, o Governo do Estado se negou a
recorrer a essa medida.
A
vinda de homens da Força Nacional alivia um pouco o medo, mas não é o
suficiente para trazer de volta a esperança. Primeiro, porque até numa situação
de caos como essa, a hostilidade entre os governos estadual e federal ficou
evidente na fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que fez questão de
destacar “incapacidade” de Camilo de resolver o problema. Ora, incapaz ou não,
o pedido de ajuda é sempre clamado pela população, e finalmente foi ouvido. Bolsonaro
tinha mais era de atender.
A
média de duração dessa onda de ataques fica entre três e quatro dias. Entramos
no terceiro, mas estatísticas não garantem que estamos nos aproximando do fim.
Ainda mais porque todos sabem que a paz que experimentamos é ilusória e
acontece enquanto a guerra continua a ser engendrada pelas facções criminosas
de dentro dos presídios. É necessário ultrapassar entraves ideológicos para
discutir resoluções reais. O cidadão não merece ficar à mercê dessa violência.
*Letícia
Alves
Jornalista
do O POVO.