quarta-feira, 28 de junho de 2017

Gilmar Mendes diz que Lava Jato criou ‘direito penal de Curitiba’

Gilmar Mendes


Em julgamento no STF da validade da delação da JBS, ministro critica termos do acordo firmado pela Procuradoria e disse que a Constituição está sendo ferida

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta quarta-feira durante sessão da Corte que a Lava Jato criou um “tipo de direito penal de Curitiba”, em alusão às decisões tomadas pelo juiz Sergio Moro e pelos procuradores federais responsáveis pela operação na primeira instância.

A frase foi proferida durante a retomada do julgamento que analisa a validade da delação firmada pelo Ministério Público Federal com a JBS e se o ministro Edson Fachin permanece como relator dos inquéritos derivados dessa colaboração.

Na semana passada, quando o julgamento foi interrompido, a maioria dos ministros ( 7 votos) já havia votado por referendar a delação e manter Fachin à frente dos processos. Faltam votar ainda, além de Gilmar, os ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e a presidente do tribunal, Cármen Lúcia.

“Criou-se um tipo de direito penal de Curitiba, normas que não têm nada a ver com o que está na lei, e torna-se impossível o controle da legalidade”, disse o ministro. “Combater crime não se pode fazer cometendo crimes ou irregularidades”, afirmou.

Ministro mais crítico do acordo com a JBS, ele levantou a voz mais de uma vez durante sua argumentação na Corte. Disse que o tribunal tem dever de “lealdade com a Constituição, e não com a Procuradoria” e que a “Procuradoria também está submetida à Constituição”.


“Esse ciclo de inovações parece ter chegado ao ápice nas delações do grupo Odebrecht (…) [alguns delatores] vão cumprir pena sem inquérito, sem denúncia e sem sentença. É o novo direito penal, que viola o princípio da legalidade, mas, mais do que isso, viola a Constituição. Esses acordos passaram a ter força constituinte, porque revogam normas constitucionais”

Fonte: Veja