O Nordeste brasileiro tem uma intrínseca ligação com a história do Cangaço, não somente por ter sido em suas terras que Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e integrantes do movimento nasceram, mas por ser na região toda a constituição de um legado. Em Sergipe hoje vive sua única filha, Expedita Ferreira, netos e bisnetos.
Expedita Ferreira, filha de Lampião e
Maria Bonita, na XX Missa do Cangaço realizada em 2017, na Grota do Angico em
Poço Redondo (SE)
Quando 28 de julho chegar, a
família Ferreira, descendentes do movimento do Cangaço, pesquisadores de todo o
país, estudantes e a comunidade do Baixo São Francisco e Alto Sertão convergem
como num ritual para a Grota do Angico, com o intuito de lembrar os anos de
morte do Rei do Cangaço e seus integrantes, ceifados em uma emboscada na
Fazenda Angico, então pertencente ao município de Porto da Folha e hoje
território de Poço Redondo (SE). Neste ano a morte de Lampião completará 80
anos em homenagem especial.
Missa do Cangaço lembrará os 80 anos de
morte de Lampião na Grota do Angico, em Poço Redondo, sertão sergipano
A sanfona ecoará no ritmo do
xaxado como um ritual de dança da chuva. Os bacamartes lembrarão os tantos
tiros dados nas terras áridas do Nordeste, e a chuva quiçá se fará presente
como se fosse em agradecimento de luta. A liturgia católica cantarolará
louvores e o cordel será o hino somente para celebrar.
Lampião vive na devoção do
sertanejo, nas cores da moda dos grandes centros, nas histórias de
pesquisadores e estudantes e nos seus seguidores por todo o Brasil e Mundo. Um
dos mais pesquisados e biografados brasileiro hoje é um mito. O Tô no Mundo traz
neste post roteiros e dicas para se conhecer locais que têm tudo a ver com o
movimento do Cangaço entre os estados de Sergipe e Alagoas.
Piranhas (AL), cidade que mais parece um
cenário de filme, incrustada à beiro do rio São Francisco
Entremontes, Piranhas e
Delmiro Gouveia (AL), Canindé do São Francisco e Poço Redondo (SE) formam um
conjunto de atrações que permitem intitulá-los carinhosamente de Rota Turística
do Cangaço. O conjunto regional de cenário de novela é real e fica entre os
estados de Sergipe e Alagoas. Não é por acaso que a região chama atenção por
suas belas paisagens naturais, aconchegante contato com a natureza e
profissionalização do turismo, impulsionando cada vez mais o acesso aos
atrativos do Baixo São Francisco. A região onde a união entre o rio São
Francisco e as belezas do bioma de caatinga historiaram um dos maiores movimentos
do Nordeste brasileiro: o Cangaço.
Partindo de Maceió ou de Aracaju, capitais mais próximas, a dica é resguardar, no mínimo, três dias para conhecer a região. E olhe lá! Três dias com um roteiro bem definido.
Cânion do São Francisco, entre Sergipe e Alagoas, é o
atrativo mais visitado da região.
Partindo de Maceió ou de Aracaju, capitais mais próximas, a dica é resguardar, no mínimo, três dias para conhecer a região. E olhe lá! Três dias com um roteiro bem definido.
1º dia – Cânion do São
Francisco
O ponto de partida poderá ter
como base as cidades de Piranhas (AL) ou Canindé do São Francisco (SE), ambas
com maior infraestrutura hoteleira e de equipamentos turísticos. Há também
alguns empreendimentos em Delmiro Gouveia (AL).
Partindo de Aracaju (SE),
Canindé do São Francisco fica 197km da capital. O primeiro dia lhe reserva um
belo passeio pelo Cânion do São Francisco, formado por paredões que chegam a
uma profundidade de mais de 150m.
O atracadouro avança pelas
águas represadas da Hidrelétrica de Xingó e é por lá que se começa a aventura.
Os turistas ficam deslumbrados com o primeiro contato com paredões, margeando
as águas ora azuladas, ora esverdeadas. Tão logo passam os primeiros momentos,
tem-se a visão do Lago do Justino, uma imensa represa entre formações rochosas.
Avistam-se pedras esculpidas pelo tempo e logo-logo são nomeadas como Pedra do
Gavião, Pedra do Japonês, até mesmo Morro dos Macacos.
Formações rochosas, paredões e
vegetação de caatinga à beira-rio
Chega-se à Curva do Rio e o
guia avisa que dali até a primeira usina de Paulo Afonso seria pouco mais de
45km, num percurso de 2h30, mas não é preciso seguir tanto. Ali mesmo, bem
pertinho, fica o Paraíso do Talhado.
De um lado do paraíso, o
município de Delmiro Gouveia; do outro, Olho D’Água, ambos em Alagoas. Pertinho
dali o Vale do Mestre, local que pode ser feito também através de trilhas.
Paraíso do Talhado é uma das paradas para banho, entre
paredões
Embalados pelo som do mais
autêntico nordestinês de Luiz Gonzaga, a embarcação aporta no píer, garantindo
um bom banho. No retorno, a dica do primeiro dia é curtir o pôr do sol de um
dos mirantes da região, a exemplo da vista do restaurante Caboclo D’Água ou das
proximidades da pousada Mirante do Talhado, ambos distantes um do outro e em
solo alagoano. O primeiro tem uma vista inigualável da represa da hidrelétrica
de Xingó, o segundo, vê-se o percurso do rio de cima. A unanimidade é o
fabuloso espetáculo do Astro Rei. Há também outros mirantes, como o do
restaurante Flor de Cacto’s.
Antiga estação ferroviária e torre do relógio são atrações,
abrigando o museu do cangaço e um café
2º dia – Piranhas e histórias do
Cangaço
O segundo dia lhe reserva
conhecer uma das cidades mais encantadoras do Baixo São Francisco. Piranhas é
um misto de cenário de novela, história do cangaço e lendas franciscanas.
Visite a estação ferroviária
construída em 1881, e que é uma réplica de uma estação inglesa, hoje abrigando
o Museu do Cangaço. A sua frente fica a torre do relógio. O turista vai
observar que passear pela cidade já é uma boa diversão.
Um ponto que não deve ser
desprezado é o Mirante Secular, no restaurante Flor de Cacto’s. Caso não queira
subir os mais de 300 degraus, o acesso pode ser feito de carro por uma pequena
estrada de piçarra, à direita, antes da entrada da cidade. Saborear do pitu –
maior símbolo da culinária do Baixo São Francisco hoje quase que em extinção –
faz parte do roteiro. É hora de se banhar nas águas doces do rio. Piranhas
possui uma extensa “prainha”, com bares à beira-rio, nada de sofisticado, mas
vale à pena. Caso tenha sorte, conhecerá a famosa canoa de tolda do São
Francisco, uma delas sempre fica aportada no leito do rio.