“Policiais Federais prenderam hoje (30) três acusados de um esquema
de corrupção e lavagem de dinheiro por meio de obras públicas,
envolvendo a empreiteira Delta Construções. Ao todo, foram expedidos
cinco mandados de prisão preventiva.
Dentre os presos, está o empresário Carlinhos Cachoeira, detido em
Goiás. Ele está sendo transferido para a sede da Polícia Federal, no Rio
de Janeiro. Além de Cachoeira, mais uma pessoa foi presa em Goiás e uma
em São Paulo, mas a Polícia Federal não divulgou os nomes.
Um dos acusados, o presidente da empreiteira Delta, Fernando
Cavendish, não foi preso porque está em viagem ao exterior. O chefe da
delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros da Polícia
Federal, Tácio Muzzi, informou, em entrevista coletiva, que Cavendish
viajou para Europa no último dia 22 e ainda não foi localizado.
Empresas de fachada
As investigações apontam que mais de R$ 370 milhões foram lavados por meio de pagamento ilícito a 18 empresas de fachada.
Os empresários Carlinhos Cachoeira, Adir Assad e Marcelo Abbud são
acusados de serem os responsáveis por criar as empresas fantasmas que
lavavam os recursos públicos, por meio de contratos fictícios.
Segundo Muzzi, quase 100% do faturamento da Delta eram provenientes
de obras públicas entre 2007 e 2012, somando quase R$ 11 bilhões.
As principais obras públicas alvo do esquema eram do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes. Nas obras do Parque Aquático
Maria Lenk, que integram o Complexo Esportivo Cidade dos Esportes, na
Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, também houve desvio de dinheiro
público, segundo o Ministério Público Federal (MPF), que fez a denúncia.
O dinheiro era sacado em espécie para o pagamento de propina a
agentes públicos, de forma a impedir o rastreamento das verbas. As
empresas, que só existiam no papel, recebiam o dinheiro, mas não
realizavam o serviço. Dentre os denunciados, há executivos, diretores,
tesoureiros e conselheiros da empreiteira.
Obras inexistentes
Os valores das transferências aumentaram em anos de eleições. Uma das
transferências, de R$ 80 milhões, foi feita para uma obra inexistente
chamada Transposição do Rio Turvo/RJ, em 2008, quando houve eleições
municipais.
De acordo com o MPF, as empresas de Adir Assad e Marcelo Abbud
emitiam notas frias para outras empresas. Segundo as investigações, o
esquema também serviu de suporte à corrupção na Petrobras.
Os serviços não eram realizados e as empresas só existiam no papel.
Na investigação, o MPF apurou que as empresas não tinham sedes, nem
funcionários, e havia incompatibilidade entre receita e movimentação
financeira identificada pela Receita Federal.
Entre 2007 e 2011, foram transferidos para essas empresas fantasmas
mais de R$ 885 milhões. A organização criminosa também serviu ao esquema
de corrupção da Petrobras, de acordo com a Operação Lava Jato. Assim
como no esquema das empresas dos “operadores” Assad e Abbud, o de
Cachoeira também tinha como escopo final o saque em dinheiro.
Delação premiada
Segundo o procurador da República Leandro Mitidieri, o esquema
começou a ser desvendado na Operação Vegas, foi melhor identificado na
Operação Monte Carlo e finalmente elucidado pela Operação Saqueador,
tendo alimentado a Operação Lava Jato, por meio de compartilhamento de
provas.
Conforme Mitidieri, a recente delação premiada dos prepostos da
empresa Andrade Gutierrez S/A confirmou que a investigação estava no
caminho certo.
O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a utilização de trechos da
recente delação premiada dos prepostos da empresa Andrade Gutierrez
S/A, investigados na Operação Lava Jato. O conteúdo permanece sigiloso,
mas, segundo o MPF, confirma que a Delta era uma empresa voltada
fundamentalmente a esquemas de corrupção em obras públicas, em especial
no Rio de Janeiro.
Interpol pode ser acionada
Sobre os investigados que estão fora do país, a PF vai avaliar se
acionará a Interpol (a polícia internacional).”Estamos esperando uma
resposta dos advogados, mas se não houver contato, certamente vamos
acionar a Interpol e tomar outras medidas”, disse o delegado Muzzi, em
entrevista coletiva. As duas pessoas que não foram presas ainda não são
consideradas foragidas
.
(Agência Brasil)