O juiz Sérgio Moro determinou nesta quinta-feira 18 a transferência do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral da Cadeia Pública José Frederico Marques, na capital fluminense, para o Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba; Moro atendeu a pedido do MPF, que alegou constatar a existência de regalias ao ex-governador no cárcere do Rio
O
juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, determinou hoje (18) a
transferência do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral da Cadeia
Pública José Frederico Marques, na capital fluminense, para o Complexo
Médico-Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Moro
atendeu a pedido do Ministério Público Federal (MPF) que, após constatar a
existência de regalias ao ex-governador no cárcere, decorrentes da ação de uma
organização criminosa comandada por ele dentro da administração penitenciária,
solicitou a transferência.
O
magistrado de Curitiba afirmou ser "evidente" que Cabral ainda possui
"relevantes conexões com autoridades públicas" do estado.
"Mantendo-o no Rio de Janeiro, constituirá um verdadeiro desafio às
autoridades prisionais ou de controle prevenir a ocorrência de irregularidades
e privilégios", escreveu Moro na decisão.
"É
de interesse público retirá-lo do estado do Rio de Janeiro para romper ou
dificultar seus contatos com os anteriores parceiros criminosos",
acrescentou Moro.
O
pedido de transferência foi enviado a Moro por ele ter sido o primeiro a
determinar a prisão preventiva de Cabral, em novembro de 2016. O ex-governador
é investigado em Curitiba por ter sido acusado de receber propinas ligadas à
Petrobras, em obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Antes
que a transferência ocorra, no entanto, o juiz de Curitiba solicitou a anuência
do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, que já condenou Cabral por
corrupção em outros casos e também expediu mandados de prisão preventiva contra
o ex-governador.
"Evidentemente,
se o Sr. Juízo da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro entender que a
transferência não é pertinente no momento, este julgador poderá ser informado,
quando a questão poderá ser reavaliada", escreveu Moro.
Cabral
já foi denunciado cerca de 20 vezes pelo MPF, em diferentes investigações sobre
esquemas de corrupção no período em que ele foi governador do Rio, entre 2007 e
2014.
Privilégios
Segundo
informações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, as investigações
identificaram que, desde que ingressou no sistema penitenciário do Rio, "o
ex-governador contou com a estruturação de diversos privilégios em torno de si,
constituindo tratamento injustificadamente diferenciado, com ofensa aos princípios
da legalidade, da impessoalidade e da moralidade".
O
Ministério Público ressalta que, em um de seus momentos mais significativos, o
desrespeito às regras do presídio incluiu a tentativa de instalação de uma
espécie de sala de cinema, dotada de equipamento de home theater e acervo de
DVDs, supostamente doados por pastores evangélicos.
"Questionada,
a Seap de princípio indicou que a doação teria partido de uma igreja evangélica
devidamente cadastrada e se destinaria a 'ressocialização' dos detentos. Pouco
depois, o pastor da referida igreja afirmou que não houvera doado equipamento
algum", diz nota do MP estadual.
Em
decorrência das regalias a Cabral, os procuradores estaduais do Grupo de
Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaes/MPRJ) pediram o afastamento do
secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, coronel Erir
Ribeiro.
O
MPRJ quer ainda o afastamento do subsecretário adjunto de gestão operacional da
Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), Sauler Antônio Sakalen;
do diretor e subdiretor da penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu
VIII), respectivamente, Alex Lima de Carvalho e Fernando Lima de Farias; e do
diretor e o subdiretor da Cadeia Pública José Frederico Marques (Cadeia Pública
de Benfica), Fábio Ferraz Sodré e Nilton César Vieira da Silva.
CARLOS MAZZA / O POVO online