domingo, 29 de julho de 2018

28 de Julho: Missa do Cangaço no sertão de Sergipe

                    Piranhas (AL) vista do Mirante Secular com o majestoso rio São Francisco

O Nordeste brasileiro tem uma intrínseca ligação com a história do Cangaço, não somente por ter sido em suas terras que Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), sua Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e integrantes do movimento nasceram, mas por ser na região toda a constituição de um legado. Em Sergipe hoje vive sua única filha, Expedita Ferreira, netos e bisnetos.

Expedita Ferreira, filha de Lampião e Maria Bonita, na XX Missa do Cangaço realizada em 2017, na Grota do Angico em Poço Redondo (SE)

Quando 28 de julho chegar, a família Ferreira, descendentes do movimento do Cangaço, pesquisadores de todo o país, estudantes e a comunidade do Baixo São Francisco e Alto Sertão convergem como num ritual para a Grota do Angico, com o intuito de lembrar os anos de morte do Rei do Cangaço e seus integrantes, ceifados em uma emboscada na Fazenda Angico, então pertencente ao município de Porto da Folha e hoje território de Poço Redondo (SE). Neste ano a morte de Lampião completará 80 anos em homenagem especial.


Missa do Cangaço lembrará os 80 anos de morte de Lampião na Grota do Angico, em Poço Redondo, sertão sergipano

A sanfona ecoará no ritmo do xaxado como um ritual de dança da chuva. Os bacamartes lembrarão os tantos tiros dados nas terras áridas do Nordeste, e a chuva quiçá se fará presente como se fosse em agradecimento de luta. A liturgia católica cantarolará louvores e o cordel será o hino somente para celebrar.

Lampião vive na devoção do sertanejo, nas cores da moda dos grandes centros, nas histórias de pesquisadores e estudantes e nos seus seguidores por todo o Brasil e Mundo. Um dos mais pesquisados e biografados brasileiro hoje é um mito. O Tô no Mundo traz neste post roteiros e dicas para se conhecer locais que têm tudo a ver com o movimento do Cangaço entre os estados de Sergipe e Alagoas.


Piranhas (AL), cidade que mais parece um cenário de filme, incrustada à beiro do rio São Francisco

Entremontes, Piranhas e Delmiro Gouveia (AL), Canindé do São Francisco e Poço Redondo (SE) formam um conjunto de atrações que permitem intitulá-los carinhosamente de Rota Turística do Cangaço. O conjunto regional de cenário de novela é real e fica entre os estados de Sergipe e Alagoas. Não é por acaso que a região chama atenção por suas belas paisagens naturais, aconchegante contato com a natureza e profissionalização do turismo, impulsionando cada vez mais o acesso aos atrativos do Baixo São Francisco. A região onde a união entre o rio São Francisco e as belezas do bioma de caatinga historiaram um dos maiores movimentos do Nordeste brasileiro: o Cangaço.

Partindo de Maceió ou de Aracaju, capitais mais próximas, a dica é resguardar, no mínimo, três dias para conhecer a região. E olhe lá! Três dias com um roteiro bem definido.


                      Cânion do São Francisco, entre Sergipe e Alagoas, é o atrativo mais visitado da região.

1º dia – Cânion do São Francisco

O ponto de partida poderá ter como base as cidades de Piranhas (AL) ou Canindé do São Francisco (SE), ambas com maior infraestrutura hoteleira e de equipamentos turísticos. Há também alguns empreendimentos em Delmiro Gouveia (AL).

Partindo de Aracaju (SE), Canindé do São Francisco fica 197km da capital. O primeiro dia lhe reserva um belo passeio pelo Cânion do São Francisco, formado por paredões que chegam a uma profundidade de mais de 150m.

O atracadouro avança pelas águas represadas da Hidrelétrica de Xingó e é por lá que se começa a aventura. Os turistas ficam deslumbrados com o primeiro contato com paredões, margeando as águas ora azuladas, ora esverdeadas. Tão logo passam os primeiros momentos, tem-se a visão do Lago do Justino, uma imensa represa entre formações rochosas. Avistam-se pedras esculpidas pelo tempo e logo-logo são nomeadas como Pedra do Gavião, Pedra do Japonês, até mesmo Morro dos Macacos.




                                 Formações rochosas, paredões e vegetação de caatinga à beira-rio

Chega-se à Curva do Rio e o guia avisa que dali até a primeira usina de Paulo Afonso seria pouco mais de 45km, num percurso de 2h30, mas não é preciso seguir tanto. Ali mesmo, bem pertinho, fica o Paraíso do Talhado.

De um lado do paraíso, o município de Delmiro Gouveia; do outro, Olho D’Água, ambos em Alagoas. Pertinho dali o Vale do Mestre, local que pode ser feito também através de trilhas.


                   Paraíso do Talhado é uma das paradas para banho, entre paredões

Embalados pelo som do mais autêntico nordestinês de Luiz Gonzaga, a embarcação aporta no píer, garantindo um bom banho. No retorno, a dica do primeiro dia é curtir o pôr do sol de um dos mirantes da região, a exemplo da vista do restaurante Caboclo D’Água ou das proximidades da pousada Mirante do Talhado, ambos distantes um do outro e em solo alagoano. O primeiro tem uma vista inigualável da represa da hidrelétrica de Xingó, o segundo, vê-se o percurso do rio de cima. A unanimidade é o fabuloso espetáculo do Astro Rei. Há também outros mirantes, como o do restaurante Flor de Cacto’s.






Antiga estação ferroviária e torre do relógio são atrações, abrigando o museu do cangaço e um café

2º dia – Piranhas e histórias do Cangaço

O segundo dia lhe reserva conhecer uma das cidades mais encantadoras do Baixo São Francisco. Piranhas é um misto de cenário de novela, história do cangaço e lendas franciscanas.

Visite a estação ferroviária construída em 1881, e que é uma réplica de uma estação inglesa, hoje abrigando o Museu do Cangaço. A sua frente fica a torre do relógio. O turista vai observar que passear pela cidade já é uma boa diversão.

Um ponto que não deve ser desprezado é o Mirante Secular, no restaurante Flor de Cacto’s. Caso não queira subir os mais de 300 degraus, o acesso pode ser feito de carro por uma pequena estrada de piçarra, à direita, antes da entrada da cidade. Saborear do pitu – maior símbolo da culinária do Baixo São Francisco hoje quase que em extinção – faz parte do roteiro. É hora de se banhar nas águas doces do rio. Piranhas possui uma extensa “prainha”, com bares à beira-rio, nada de sofisticado, mas vale à pena. Caso tenha sorte, conhecerá a famosa canoa de tolda do São Francisco, uma delas sempre fica aportada no leito do rio.