Gerson Almada declarou ter feito contratos
"dissimulados" com o fim de pagar supostas vantagens indevidas a
Dirceu (Rodolfo Buhrer/Ueslei Marcelino/Reuters)
Lula e
Dirceu seriam os supostos beneficiários de uma conta em Madri, segundo
depoimento de empreiteiro da Engevix.
A
força-tarefa da Operação Lava Jato pediu ao juiz federal Sérgio Moro que a
Polícia Federal investigue as novas revelações do empreiteiro Gerson de Melo
Almada, ligado à Engevix. A manifestação do Ministério Público Federal foi
protocolada no dia 19 de dezembro. Em depoimento prestado em julho deste ano,
com sigilo levantado em 1º de dezembro, Almada
disse saber de uma suposta conta em Madri, administrada pelo lobista Milton
Pascowitch, abastecida por propinas de contratos da Petrobras. Os beneficiários
da conta seriam o ex-presidente Luiz Inácio Lula e o ex-ministro José Dirceu.
O
depoimento do empreiteiro foi anexado à denúncia do Ministério Público Federal
sobre propinas de 2,4 milhões de reais das empreiteiras Engevix e UTC para
Dirceu (ministro da Casa Civil do governo Lula). O petista teria recebido os
valores durante e depois do julgamento do mensalão – ação penal em que Dirceu
foi condenado a 7 anos e onze meses.
Gerson
Almada declarou ter feito contratos “dissimulados” com o fim de pagar supostas
vantagens indevidas a Dirceu. No mesmo depoimento, Almada confessou que firmou
“contratos dissimulados” com a empresa de comunicação Entrelinhas com o fim de
pagar propinas a Dirceu.
O
empreiteiro afirmou que “o objeto dos contratos, anexados aos autos, nunca foi
prestado à Engevix e que, mediante o fornecimento das notas fiscais pela
Entrelinhas, a empreiteira pagou de 2011 a 2012, o valor de R$ 900 mil”.
Na
manifestação enviada em 19 de dezembro, o Ministério Público Federal afirmou
que as novas declarações de Gerson Almada “não possuem o condão de desconstruir
a narrativa edificada na denúncia”.
“Ao
contrário, em verdade, no que respeita ao presente feito, as circunstâncias por
ele apresentadas apenas corroboram os fatos narrados na exordial acusatória, os
quais, oportunamente, serão devidamente demonstrados de forma cabal no decorrer
da instrução criminal”, anotou a força-tarefa.
“Especificamente
quanto aos novos fatos trazidos por Gerson Almada, requer este órgão
ministerial seja o Departamento de Polícia Federal intimado a fim de que
proceda à instauração de inquérito policial para a sua apuração, instruindo-o,
desde logo com os depoimentos e documentos trazidos pelo representante da
Engevix, assim como pela declaração de Milton Pascowitch ora encartada aos
autos”, solicitou a Procuradoria da República, no Paraná.
Defesas
Quando
as informações sobre as novas declarações de Almada foram publicadas pelo
jornal O Estado de S. Paulo, no início de dezembro, os citados se manifestaram
desta forma:
“Essa
é mais uma peça de ficção que integra o sistema de delações premiadas a ‘la
carte’ que vem se tornando uma marca da Operação Lava Jato. Para obter
benefícios, réus confessos precisam se referir a pessoas preestabelecidas pelos
integrantes da operação, em especial, o ex-Presidente Lula. Lula. jamais
recebeu qualquer valor indevido da Engevix ou de qualquer outra empresa e
empresário. O próprio depoente reconheceu que não tem qualquer prova contra o
ex-Presidente, deixando evidente que a referência ao seu nome foi
artificialmente construída para que a sua delação fosse aceita é mantida”,
disse o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula.
O
advogado Roberto Podval, que defende José Dirceu, se manifestou da seguinte
forma: “Vou ter acesso ao depoimento ainda, mas, se for verdade, a colaboração
de Milton Pascowitch deve ser revista”.
“Nenhum
sentido. Em seu próprio depoimento, Almada afirma não ter prova do que diz”,
disse, por sua vez, o advogado Théo Dias, defensor de Pascowitch.
A
reportagem está tentando contato com a Entrelinhas. O espaço está aberto para manifestação
da empresa de comunicação.
Fonte : O ESTADÃO